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TRADIÇÃO “AKBAR, O DEUS DO LAND ROVER NESTA PARTE DO MUNDO, TEM ORGULHO DESSA IDENTIDADE.” Diz-se que Akbar (no alto) é capaz de consertar praticamente qualquer problema mecânico usando sua vasta experiência e a caverna de peças de sua oficina (à esquerda). “O Série I é duro como um martelo”, diz ele, explicando que a longevidade advém do corpo de alumínio durável e da mecânica simples. “O chassi não enferruja e, portanto, ele não precisa ficar estacionado numa garagem, o que pode ser um luxo caro numa cidade como esta, onde o espaço é restrito. Os 4x4 modernos, com chassi de aço, precisam de muito mais manutenção.” Passang está convencido de que os carros modernos não suportam os maus tratos constantes que os Série I aguentam. E quem sou eu para discutir com esse homem entusiasmado que, com anos de puro empenho e trabalho árduo, tem uma filha com doutorado por Oxford, um filho concluindo o mestrado na Austrália e um terceiro filho em uma escola próxima? Começo a entender como o Série I ajudou a mudar vidas nesta cidade de maneira radical. Mais tarde, estou empoleirado num banquinho de madeira escurecida, numa oficina com paredes revestidas de prateleiras abarrotadas de peças Land Rover antigas. Akbar está na casa dos 50 anos, mas as rugas de seu rosto logo desaparecem quando ele me mostra animadamente vários pinhões, engrenagens, conjuntos de embreagem, juntas, correias de ventoinha e três motores completos. Akbar, que trabalha com os Série I há mais de 30 anos, é o homem que mantém os Land Rovers de Maneybhanjang em funcionamento. Entre suas especialidades está o acoplamento de motores diesel fabricados na Índia à mecânica do Série I. Ele me diz que, aqui, apenas três Land Rovers ainda utilizam o motor a gasolina original, e o motivo é uma simples questão de economia: na Índia, o diesel é consideravelmente mais barato do que a gasolina, e os motores a diesel são mais econômicos nestas condições de tráfego off-road, com subidas lentas e em alta rotação. E, como o combustível corresponde a um terço do preço usual de cada viagem feita por esses Land Rovers, essa economia faz sentido. “Só os Land Rovers podem percorrer a estrada que sobe esta montanha porque são muito fáceis de consertar”, diz. Ele me mostra um eixo de transmissão quase sem dentes. “Isso aconteceu lá no alto da estrada, mas o motorista conseguiu voltar para a oficina.” Olho para o eixo de engrenagem quase banguela sem acreditar no que vejo – a peça não tem dentes suficientes para morder uma batata bem cozida, muito menos para trazer de volta um Série I totalmente carregado. “Os veículos modernos”, acrescenta Akbar, “têm sistemas eletrônicos que é quase impossível as pessoas destas áreas remotas consertarem”. Akbar, que não teve educação formal, não sabe os nomes corretos das peças que precisa consertar, mas, por simples experiência e intuição, entende o que está errado e sabe executar os reparos. Mais tarde, descubro que há, na região, outros mecânicos capazes de consertar esses Land Rovers antigos, mas é a Akbar que eles recorrem para os problemas difíceis. Nesta parte do mundo, Akbar é o deus do Land Rover, e ele tem orgulho 35